Pesquisa revela que razão para baixa frequência de paulistas a teatros e cinemas é falta de interesse
Caco Galhardo |
ANA PAULA SOUSA
DE SÃO PAULO
Desta vez, os entrevistados não tergiversaram. Questionados sobre as razões que os deixam do lado de fora de cinemas, teatros e museus, os paulistas miraram, em bloco, uma resposta capaz de embaralhar algumas teses sobre o consumo cultural.
Os números reforçam, primeiro, o que se intuía: 40% dos paulistas não costumam ir ao cinema, 60% não costumam ir ao teatro e 61% não costumam ir a museus. O que chama a atenção é a justificativa para a inércia: "Não me interesso/ não gosto/ não me sinto bem fazendo", respondem os entrevistados.No caso do cinema, enquanto 29% alegam falta de interesse, apenas 8% citam o preço do ingresso como empecilho. A piadinha "Vá ao teatro, mas não me chame" também ganhou torneado estatístico: 32% dizem não ver peças, simplesmente, porque não têm vontade.
A pesquisa é fruto de projeto da consultora J.Leiva Cultura & Esporte, realizado em parceria com o Datafolha e a Fundação Getúlio Vargas. Foram ouvidas, entre 25/8 e 15/9, 2.400 pessoas, acima de 12 anos, em 82 cidades.
O objetivo da pesquisa era mapear e compreender os hábitos culturais da população. Os resultados serão apresentados e analisados amanhã, durante um seminário na Pinacoteca -com vagas já esgotadas.
BEABÁ
"O que surpreende é o fato de essa resposta aparecer. A pressão por ser culto, consumir cultura é tão grande que, em geral, as pessoas dão desculpas como falta de tempo ou dinheiro", diz Teixeira Coelho, curador do Masp e professor da USP.
"Isso aponta para uma certa sinceridade", observa Teixeira Coelho. "Mas a gente também sabe, por pesquisas internacionais, que, à medida que melhora o nível econômico, melhora o consumo cultural. É claro que o fator econômico pesa, até porque, na cultura, o hábito é fundamental. Falta oportunidade para que as pessoas tenham a cultura introduzida em suas vidas."
O diretor Antonio Araújo, do Teatro da Vertigem, pondera que consumir cultura é abrir-se a uma experiência. "Quem nunca foi exposto a uma ópera pode ter raiva dessa experiência. Voltamos sempre à questão da formação de público", diz Araújo.
O cineasta Domingos Oliveira recorre aos adjetivos "estonteante e deprimente" para falar da pesquisa. Como todos os ouvidos para esta reportagem, ele desvia os olhos dos palcos para as escolas.
"Precisamos cuidar desse um terço [que consome regularmente cultura], porque quem não gosta de arte bom sujeito não é. A doença em geral é a falta de educação", diz Oliveira. "O contato com as artes deveria ser obrigatório no ensino primário."
Paradoxalmente, os "desinteressados" dizem que gostariam de gostar de cultura. Os entrevistados que custam a tirar o pé de casa para consumir cultura dizem ter gosto por "realizar atividades culturais". O "sim", nesse quesito, teve índice de 68%.
Frase
"Nossa educação é completamente desculturada. Não há introdução das pessoas à cultura. A reiteração e o hábito são essenciais para a afirmação do consumo cultural. Além disso, nosso mercado é muito incipiente"TEIXEIRA COELHO
curador do Masp
Folha de S.Paulo, 20 de Outubro de 2010
Postado por: Juliana
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