Leituras Complementares

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Evolução da auto-declaração de raça, de parte de Crianças e Adolescentes


Além da época, do lugar, do contexto institucional e dos objetivos terem variado de estudo para estudo, destacamos também os tipos de pesquisa efetuados: nos demais estudos, perguntou-se "qual a sua cor", sem associação com o termo raça. A pesquisa de Sanjek (1971) ainda se diferencia, pois, ao perguntar "qual a cor de sua pele", pode ter provocado mais respostas "descritivas" no sentido atribuído por Sheriff (2002): alguns participantes podem ter diferenciado tons de pele e outros terem tido um entendimento de cor como tropo para raça.
À maneira dos jovens e jovens adultos baianos que participaram da pesquisa de Sansone (2004), crianças e adolescentes paulistanos que inquirimos tendem a evocar com certa freqüência o termo negro. Além disso, recorrem menos ao eufemismo "moreno" (e suas combinações) para referirem-se a negros, pretos e pardos. Aparentemente, seu vocabulário é mais conciso, ou talvez, mais direto. Porém, não podemos deixar de lembrar que esses alunos haviam vivido a experiência decorrente da incorporação do quesito cor no Censo Escolar 2005.
Os alunos que inquirimos parecem, pois, se afastar dos padrões apontados por Sanjek (1971) por Fazzi (2000) e se aproximar de Soares (2006). Sanjek encontrou um aumento crescente da quantidade de termos usados conforme aumentava a idade dos respondentes e menor uso do termo moreno entre pessoas mais jovens. Neste nosso estudo, não observamos ampliação do vocabulário associada à série escolar (indicador de idade) tampouco maior uso do termo moreno na 4ª série do EF, portanto, entre alunos mais jovens. O padrão, observado por Fazzi (2000), de rejeição aos termos preto/negro e preferência pelo termo moreno entre crianças de 8 a 11 anos, também não pode ser confirmado no nosso estudo. Focalizando exclusivamente as crianças de 4ª série do EF (grupo mais próximo daquele estudado por Fazzi), notamos uso mais freqüente de termos e expressões associados a negro/preto (16,7%) que a moreno (13,1%). Além disso, o termo pardo, ainda nessa série escolar, foi mais evocado que o termo moreno (25% e 13,1% respectivamente). Porém, o termo preto foi muito pouco usado pelos alunos de 8ª série do EF e de 3ª série do EM, contrariamente ao termo negro, freqüentemente usado pelos alunos mais velhos.
Soares (2006) aparentemente também localizou um repertório reduzido de termos (no máximo 11, em decorrência de ter construído a categoria "outros"), um uso mais freqüente do termo pardo que moreno e uma preferência pelo termo negro quando comparado a preto. Além disso, é importante destacar que as respostas dos alunos inquiridos por Soares (2006) variavam bastante de escola para escola. Tal variação, a nosso ver, indica não apenas diferenças na composição racial do alunado, mas também a sensibilidade do repertório racial a condições de contexto: maneirismos, idiossincrasias, modas e trejeitos locais. Tais condições de contexto institucional parecem orientar mais as respostas que a localização geográfica: Fazzi (2000) e Soares (2006) pesquisaram em escolas de Belo Horizonte: Fazzi assinala uma rejeição pelos termos preto/negro e uma preferência pelo termo moreno. Os dados publicados de Soares permitem apreender que em todas as escolas, o termo mais evocado pelos alunos foi pardo, seguido de branco e moreno. O menos usado foi "mulato". Em uma das escolas, sete alunos evocaram o termo moreno e oito, os termos preto e negro.


juan

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